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Imprensa -

Empreendedorismo feminino: copo meio cheio e meio vazio 

Sugestão de Pauta

Marcelo de Souza e Silva

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) e do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas

O primeiro semestre de 2023 terminou com notícias positivas para o empreendedorismo feminino do país. A criação da Frente Parlamentar Mista pela Mulher Empreendedora e a sanção da Lei 14.611/23, que torna obrigatória a igualdade salarial entre homens e mulheres, trazem grandes benefícios econômicos e sociais para o país. São conquistas de grande importância que, se executadas corretamente, vão contribuir para uma mudança de cenário que subutiliza a mão de obra e a capacidade das mulheres. 

O empreendedorismo feminino é uma das principais forças econômicas do Brasil: são 30 milhões de mulheres que comandam 52% do total de negócios do país, de acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Essas mulheres, além de gerarem renda e postos de trabalho, também contribuem para o combate à silenciosa epidemia de violência doméstica. Pesquisa do DataSenado mostrou que 46% das vítimas de agressão não rompem o ciclo de violência nem denunciam os agressores por dependerem financeiramente deles. Por outro lado, empresas e negócios comandados por mulheres são mais inclusivos e priorizam a contratação de pessoas do mesmo gênero.

Ao cruzar essas informações, torna-se clara a constatação de que o fomento ao empreendedorismo feminino é um caminho de transformação econômica, social e pessoal. O sucesso de uma empreendedora reverbera em sustento de famílias, encerramento de ciclos violentos e perspectivas positivas. 

Caminhando um pouco mais nesta estrada do empreendedorismo feminino, observamos diversos pontos de atenção como, por exemplo, a carga tributária mais elevada na concessão de crédito. É triste, mas é real. As mulheres empresárias pagam mais juros em um empréstimo que os homens, ainda que a inadimplência entre elas seja menor. Já na participação feminina no mercado de trabalho, além dos cargos de liderança serem majoritariamente ocupados por homens, vivemos ainda o preconceito velado com mulheres que são mães. É sempre muito difícil para a mulher que, por um determinado período se ausentou em prol da maternidade, retornar ao mercado com um salário razoável. 

O empreendedorismo exercido por mulheres também convive com outro fator delicado: a informalidade. Segundo dados da CNDL e Sebrae, 61% das empreendedoras do país são informais e 73% trabalham por conta própria com poucos recursos financeiros. Esse índice está acima da informalidade nacional que, no primeiro trimestre de 2023, atingiu 38,9% da população ocupada, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Atuando dessa forma, essas mulheres ficam órfãs de direitos, como licença médica, maternidade e contribuição ao INSS. 

Quando voltamos o olhar para o mercado de trabalho, a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD) nos mostra que a população desocupada do país é composta em 53,7% por mulheres e 46,3% por homens, revelando, mais uma vez, que o gênero feminino enfrenta muitos obstáculos para se estabelecer. 

Esses dados refletem o “copo meio vazio”, já as conquistas citadas no início, simbolizam o “copo meio cheio”. Creio que as empresas serão socialmente responsáveis e seguirão a legislação, estabelecendo uma folha salarial igualitária entre homens e mulheres. Vamos trabalhar no Congresso para que a Frente Parlamentar pela Mulher Empreendedora, composta por 205 membros, seja eficaz, eficiente e, sobretudo, tenha a sensibilidade de ouvir as dores do empreendedorismo feminino que, de fato, são muitas, mas não impossíveis de serem curadas.