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Empregabilidade entre jovens aumenta, mas milhões ainda estão fora do mercado de trabalho 

Sugestão de Pauta

Segundo IBGE e Ministério do Trabalho, são três milhões de pessoas entre 14 e 24 anos desocupadas e quase cinco que não estudam e nem trabalham. Campanhas de promoção do primeiro emprego buscam conscientizar  empresas e jovens  para a necessidade de ofertas de vagas e da participação em programas de emprego e capacitação 

Segundo o último censo do IBGE, os jovens entre 14 e 24 anos representam 17% da população brasileira, ou seja, esse grupo geracional forma um contingente de 34 milhões de pessoas. Desse total, 602 mil conquistaram o primeiro emprego por meio da Lei da Aprendizagem, em março deste ano. Um número significativo, porém, muito pequeno quando comparado aos três milhões de jovens desocupados e aos quase cinco milhões que não estudam e nem trabalham, de acordo com o IBGE e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Essa parcela da população enfrenta os desafios da conquista do primeiro emprego formal e, com isso, têm mais dificuldade em transpor as barreiras da vulnerabilidade social. De acordo com um levantamento da Fundação CDL-BH, braço social da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), no ano de 2023 foi registrado que dos mais de 1.300 jovens atendidos pela entidade, 19,64% estão em situação de alto risco social, tendo a renda per capita do núcleo familiar girando em torno de R$ 0,00 a R$ 529,00. Outros 28,12% estão em situação de risco social, com a renda per capita de R$ 529,51 até R$ 1.059,00.

“Muitos desses jovens e suas famílias vivem em um cenário de fragilidade econômica. Oferecer a eles uma oportunidade de trabalho é contribuir para uma mobilidade social que transforma realidades e minimiza a vulnerabilidade”, analisa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.

Para romper os desafios deste cenário, ações de capacitação e primeiro emprego,  como o Programa Educação e Trabalho (PET), realizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), por meio da Fundação CDL-BH, são o caminho para mudar essa realidade. Segundo o MTE, estabelecimentos de qualquer natureza, que tenham pelo menos sete empregados, são obrigados a contratar aprendizes, de acordo com o percentual exigido por lei (Art. 429 da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT), sendo o mínimo 5% e o máximo 15% em relação à quantidade de empregados.

“Ampliar a parcela de jovens no mercado de trabalho é fundamental para que o desenvolvimento econômico e social do país seja sustentável e atinja as camadas mais desfavorecidas da população. O mercado de trabalho, especialmente o setor de comércio e serviços, sente dificuldades em encontrar mão de obra. Por outro lado, temos jovens em busca de uma oportunidade. O que queremos é criar uma ponte entre esses interesses e ajudar a promover a empregabilidade”, explica o presidente da CDL/BH.

Essa transformação social foi vivenciada por Larissa Almeida, 25, supervisora de treinamento na Localiza&Co . Ela iniciou na empresa aos 17 anos, em 2016, por meio de um programa de recrutamento de jovens realizado pela Fundação CDL-BH, em parceria com a companhia. Desde então, sua trajetória foi de ascensão e, atualmente, ela ocupa uma posição de liderança. “A minha experiência como aprendiz e oportunidade do primeiro emprego foi revolucionária, pois, eu estava recém-formada do Ensino Médio. E, como a maioria dos jovens que vivem nas periferias do Brasil, eu não tinha perspectiva de futuro. Eu finalizei os estudos, meus pais não tinham condições de pagar uma faculdade e, quando eu participei desse processo seletivo, com mais de dois mil jovens . No dia que eu fui recrutada, foi o dia que minha realidade começou a se transformar”, recorda.

Quando iniciou sua trajetória como aprendiz, Larissa atuou no setor de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Essa experiência influenciou sua escolha acadêmica, a levando a cursar Gestão de Pessoas e, hoje, oito anos depois, é líder da mesma área. “Desde o início da minha carreira na Localiza, o meu perfil foi moldado, tanto para a área que eu mais adequava, quanto para a o comportamento enquanto profissional. Acredito que o sucesso que alcancei, só foi possível por conta dessa assistência que tive no primeiro emprego”, conta Larissa Almeida.

Assim como Larissa, Fernanda Fagundes, 18, também iniciou sua trajetória profissional como jovem aprendiz. Em julho de 2023 ela ingressou na Unimed-BH, por meio do PET, da Fundação CDL-BH e, atualmente, é funcionária efetivada da empresa. Ela iniciou na categoria aprendiz em julho de 2023 e, em dezembro do mesmo ano, foi aberta uma vaga no setor administrativo onde atuava. Ao completar a maioridade, foi contratada. “A experiência de menor aprendiz mudou completamente a minha vida, eu aprendi a desenvolver habilidades, aceitei que errar faz parte de todos nós, melhorei meu Networking e timidez. Também aprendi a ter equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho”, comenta.

 Fuga da informalidade

Segundo a PNAD Contínua, elaborada pelo IBGE e MTE, dos a informalidade do mercado de trabalho alcança 40% dos ocupados, sendo que entre o grupo de 14 a 24 anos em ocupação, o índice chega a 45% (6,3 milhões dos 12 milhões). Em Minas Gerais, a informalidade entre os jovens ocupados (aprendizes e estagiários) está em 42,2%.

De acordo com o presidente da Fundação CDL-BH, Vilson Mayrink, um dos benefícios do primeiro emprego como Aprendiz é a fuga da informalidade. “O trabalho de aprendiz permite que o jovem inicie sua trajetória profissional com todos os respaldos da lei trabalhista. Infelizmente, existem muitos atuando de maneira informal e, com isso, tendem a levar esse comportamento para os próximos passos da carreira”, analisa.

 As 15 funções mais frequentes no mercado de trabalho brasileiro ocupam 5,8 milhões de pessoas entre 14 e 24 anos. Desse total de atividades, as que apresentam menor índice de informalidade estão ligadas ao setor de comércio e serviços: controladores de abastecimento e estoques (9,9%), repositores de prateleiras (23,4%), caixas (26,7%), recepcionistas e vendedores de lojas (37,1%). “Trabalhamos para que essa informalidade do setor reduza ainda mais, porém, estamos bem à frente de outras atividades que, infelizmente, ainda apresentam mais de 90% de informalidade. Em Belo Horizonte, por exemplo, o comércio é o maior empregador e luta, cada vez mais, pela formalização de todos os empregados”, destaca o presidente da CDL/BH.

Gabriel Pereira tem 16 anos e atua como aprendiz há seis meses no setor jurídico da Unimed BH. Para ele, a oportunidade do primeiro emprego veio para agregar em sua vida e também permitir uma experiência profissional regulamentada. “Sempre pedi para minha mãe me inscrever no programa de aprendizagem. Essa oportunidade já tem me feito crescer como pessoa e como profissional, sem contar que tenho a segurança de, logo cedo, ser resguardado pelas leis trabalhistas”, destaca.

Para Fernanda Fagundes, a oportunidade de ser efetivada, já aos 18 anos de idade por meio do PET, permitiu que ela obtivesse respaldo trabalhista e, sobretudo, desenvolvesse senso de responsabilidade, trabalho em equipe e compromisso. “A transição de aprendiz para funcionária contratada na Unimed demonstra uma evolução significativa tanto no aspecto profissional quanto pessoal. Essa oportunidade de começar como aprendiz e crescer na empresa tem vários impactos importantes: desenvolvimento Contínuo, reconhecimento do trabalho e oportunidades de crescimento. Me tornei uma pessoa com mais responsabilidade com os compromissos, aceitei que errar faz parte de todos nós, melhorei meu networking e timidez , e aprendi a ter equilíbrio entre vida pessoal e trabalho”, revela.

Incentivo aos estudos

Além da empregabilidade e do incremento da renda familiar, a Lei do Jovem Aprendiz combate a evasão escolar. Segundo a PNAD Contínua, no primeiro trimestre deste ano, 59% dos aprendizes do país não haviam concluído o Ensino Médio e 40% concluíram. Apenas 1% possui nível superior. “Uma das premissas da lei é que o jovem possa trabalhar sem ter sua vida escolar prejudicada ou abandonada. A formação educacional e a capacitação profissional são complementares e, na maioria dos casos, contribuem para que os jovens rompam o ciclo de vulnerabilidade social”, destaca Vilson Mayrink. 

Para Gabriel, a experiência como aprendiz tem sido agregadora aos estudos. “É possível conciliar os estudos com o trabalho e um tem enriquecido o outro.  É claro que encontramos desafios, mas isso faz parte. É importante ter essa responsabilidade logo cedo para crescer como profissional. Meus colegas me ensinam bastante, tenho aprendido muito sobre questões jurídicas que é o setor onde atuo, sinto que também contribuo com as coisas que sei”, avalia. 

Desde que iniciou sua rotina, Gabriel já aprendeu tarefas relacionadas a processos, precatórias e questões relativas aos trâmites jurídicos. “É uma área que descobri e que tenho gostado bastante. Todo o aprendizado contribui para o meu desenvolvimento escolar e, ainda que eu não tenha escolhido qual faculdade fazer, tem sido muito bom aprender uma profissão”, revela o jovem aprendiz.

A oportunidade do primeiro emprego também transformou a vida escolar de Priscila Aparecida, 17. Durante um ano e sete meses, ela atuou como jovem aprendiz no setor administrativo de Zarp Localiza. “A minha principal motivação para a busca dessa experiência, foi adquirir responsabilidades com os estudos, com a minha rotina e com a aquisição de conhecimento. Ter a chance de conciliar trabalho, meu desenvolvimento intelectual e minha desenvoltura na comunicação foi incrível”, conta.  

Priscila conta que, além do desenvolvimento intelectual e profissional, a experiência do primeiro emprego a enriqueceu em outros aspectos sociais. “ O que eu mais aprendi com meus colegas de trabalho foi, sem dúvidas, perder a timidez, o medo de falar em público. Também pude entender que a ansiedade e o medo de errar são comuns e que eles podem ser minimizados até serem completamente apagados. Também acredito que pude ensinar para eles algumas coisas, em especial, a ser paciente, proativo, , ser participativo e querer ser parte das coisas”, reflete. 

Impacto semelhante foi vivido por Larissa, ela relata que o processo de aprendizagem foi fundamental para que ela chegasse a um posto de liderança. “Sempre vejo nos novos aprendizes a ansiedade de, muitas vezes, não saber fazer as coisas. E eu digo a eles que quando comecei eu também não sabia fazer nada. Tudo eu aprendi com meus colegas me ensinando e com as oportunidades que, por meio dos processos de acompanhamento contínuos e com o apoio das lideranças,me proporcionaram. Isso me permitiu subir. Sei que é fácil desanimar no processo. Ser aprendiz dói. Mas é um aprendizado que te prepara e transforma por toda a vida. O conhecimento nos liberta”, conta. 

Como conquistar o primeiro emprego 

Na capital mineira, uma das formas que os jovens têm para se tornar jovens aprendizes e conquistar o primeiro emprego é por meio do PET, que disponibiliza aprendizes a empresas parceiras. O programa técnico-profissional prevê a execução de atividades teóricas e práticas. Os jovens possuem duas opções de contrato: 11 meses, com carga horária diária de seis horas e salário de R$ 995,08; 16 meses, com carga horária diária de quatro horas e salário de R$ 663,39.

Os aprendizes selecionados podem atuar nos setores de Tecnologia da Informação, Comércio e Serviço, Logística e Auxiliar Administrativo.  A rotina semanal é divida em quatro dias de atividades na empresa para aprendizagem prática e um dia na sede da Fundação CDL-BH, para conteúdo teórico. Dentro da carga horária teórica são trabalhados temas como economia financeira, marketing pessoal, saúde ocupacional, matemática, língua portuguesa, atividades culturais, informática básica, atividades voluntárias e conteúdos específicos para o desenvolvimento das tarefas do cargo (administrativo, Serviço e comércio, T.I. e Logística (almoxarifado).

Aos jovens que ainda sentem receio em buscar o primeiro emprego, Gabriel e Priscila são categóricos quanto aos benefícios da vivência. “Não tem porque não viver essa experiência. É algo que nos enriquece, que nos faz enxergar novas formas de viver e alcançar sonhos e objetivos”, destaca Gabriel. Já para Priscila, o trabalho como aprendiz ajudou a vislumbrar um futuro. “Esse emprego, sem dúvidas, vai ajudar meu currículo, é uma empresa gigantesca, é uma empresa linda, foi lindo trabalhar lá, eu ganhei muito conhecimento. Esse emprego me ajudou em meu dia a dia,a ser uma pessoa melhor em todos os quesitos da minha vida. Então, com certeza, vai me ajudar muito futuramente ainda”, almeja. 

Já para as empresas que ainda não oferecem oportunidades para jovens aprendizes, Fernanda afirma que, dar chance para os jovens é investir no futuro da própria organização. “Jovens trazem novas ideias, entusiasmo e estão abertos ao aprendizado, características que podem contribuir para a inovação e o crescimento da empresa a longo prazo”, afirma. Larissa possui uma perspectiva semelhante à de Fernanda e também acredita que os jovens têm muito a acrescentar nas empresas. “Os aprendizes têm muito o que dizer e a predizer para as empresas. Eles podem dizer o que o novo significa, tendências de mercado e comportamento. Já modificamos muitos processos em função das novas pessoas que chegaram aqui. Dar essa oportunidade é uma transformação social e também de mercado”, conclui.

Quem são os aprendizes do Brasil?

●       52% são mulheres e 48% são homens

●       63% têm até 17 anos e 37% são jovens de 18 a 24 anos

●       57% pretos ou pardos,  43% brancos e amarelos

●  Principais atividades: auxiliar de escritório, assistente administrativo, repositor de mercadorias, vendedor de comércio varejista, alimentador de linha de produção, mecânico de manutenção em máquinas, embalador à mão, escriturário de banco, auxiliar de logística, operador de caixa e almoxarife.

Fonte: Os jovens e o trabalho – sua inserção e reflexões para o futuro – Ministério do Trabalho/Governo Federal