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Gastronomia mineira precisa de desburocratização e apoio

Atuação Social

Aperfeiçoamento da legislação envolvendo a gastronomia, de modo a desburocratizar a atividade, além da criação de políticas públicas que facilitem a atuação dos pequenos produtores e empreendedores. Essas foram as principais reivindicações dos diversos atores do setor que participaram de audiência pública da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na terça-feira, (18/8). O presidente da CDL/BH, Bruno Falci e o vice-presidente de Relações Institucionais da Entidade, Anderson Rocha, que também é membro da Frente Mineira de Gastronomia participaram da reunião realizada com o objetivo de debater mecanismos de incentivo à gastronomia mineira.

Em seu discurso, o presidente da CDL/BH, Bruno Falci, disse ter conhecimento da importância do turismo e da gastronomia para a geração de emprego e renda no desenvolvimento do estado. Diante disso, ele acredita ser fundamental eliminar entraves que atrapalham o crescimento do setor. A burocracia é, hoje, uma das portas que temos de atravessar. Ela inviabiliza, dificulta, paralisa e impede-nos de crescer. Só para ter uma ideia disso, a comercialização interestadual do queijo da Serra da Canastra, um dos ícones da nossa gastronomia, só foi liberada em 2013. O que revela a falta de diálogo e de conhecimento do poder público com os processos de produção artesanal”, enfatizou Falci.

Outro convidado foi Eduardo Avelar, fundador da Conspiração Gastronômica, entidade que tem como intuito promover, divulgar e preservar a culinária de Minas Gerais. Ele mostrou preocupação com a proteção dos pequenos produtores artesanais, que são, segundo ele, “os grandes preservadores das tradições mineiras e fomentadores da economia”. Segundo Avelar, Minas e o Brasil estão na contramão do que o mundo inteiro vem fazendo com relação aos pequenos produtores. “Estamos desrespeitando centenas de milhares de famílias com uma legislação míope, feita a quatro paredes, com regras injustas”, criticou.

Na opinião de Avelar, quando a fiscalização se depara com um produtor artesanal de queijo ou outro produto típico da culinária mineira, deve ter um olhar diferenciado com relação à saúde pública. Para ele, os órgãos governamentais não podem dar ao pequeno produtor o mesmo tratamento de uma grande empresa alimentícia. “É uma maneira injusta de tratar a questão. Vamos parar de tratar a bactéria no alimento de forma geral e discutir caso a caso”, defendeu, ressalvando a importância da fiscalização fitossanitária.

Outro ponto importante para Eduardo Avelar é a unificação do conceito de gastronomia mineira por todos os envolvidos na cadeia produtiva. “Algumas coisas só temos em Minas: a história que vem de nossos quintais, de uma galinha caipira, de uma verdura, até de uma cachaça… Não precisamos inventar a roda. Nada melhor que os quintais para definir a gastronomia mineira”, disse. Para o estudioso, só com essa unidade conceitual, ainda não encontrada pelos atores do setor, é que a imagem de Minas Gerais poderá ser mais bem trabalhada nacional e internacionalmente. “A Espanha conseguiu unir províncias que jogavam bombas umas nas outras por meio da gastronomia”, lembrou.

Também o gastrônomo e proprietário do Centro Culinário, Eduardo Maya, avalia que são fundamentais uma nova legislação e políticas públicas para facilitar a vida do pequeno empreendedor. “Outro dia, convidei um pequeno produtor de Ouro Preto para fornecer 'carne de lata' para a minha escola de gastronomia. Infelizmente, ele não pôde participar porque fecharam sua pequena indústria, alegando inadequação sanitária. Logo ele, que realizava um trabalho sério, com sanidade total”, criticou.

Eduardo Maya também vê a necessidade de ampliação dos espaços de comercialização para os pequenos produtores Ele, que idealizou a feirinha Aproxima, explicou que o projeto tem esse objetivo. “Como os pequenos produtores são carentes de eventos e apoio! Temos que dar oportunidades para que essa pequena produção chegue às nossas mesas”, sugeriu.

Outra frente de trabalho empreendida por Maya são os eventos gastronômicos, tanto os promovidos pela sua empresa quanto aqueles dos quais participa, divulgando a culinária mineira. “Daqui a alguns dias, viajamos a Portugal para participar do Peixe Lisboa, maior evento gastronômico do país. É importante continuar as nossas viagens, mostrando Belo Horizonte, Minas Gerais e os nossos produtos”, ressaltou.

Também Ivo Faria, presidente da Associação Mineira de Gastronomia e dono do restaurante Vecchio Sogno, na Capital, criticou a falta de definição da vocação turística de Belo Horizonte. “Você vai a Roma, Miami, Nova York, São Paulo – todas essas cidades têm a mesma vocação: turismo e negócios. Gostaria de ver chegar o dia para definir o que Belo Horizonte será, porque nós não sabemos”, disse. Ele advertiu que outras cidades brasileiras estão ultrapassando a capital mineira, que era a quarta do Brasil, em termos de gastronomia. “Recife nos tomou o quarto lugar. Outras cidades estão vindo. Belo Horizonte parece que parou”, lamentou.

Ederson Teixeira Campos, consultor empresarial e gastrólogo, solicitou a criação de incentivos governamentais para os pequenos empreendedores e produtores do setor gastronômico. “Precisamos de apoio maior para manutenção dos empreendimentos. O Estado é o nosso grande sócio, que recebe parte do nosso lucro, mas não participa de nossos prejuízos”, afirmou. Um dos gargalos citados por ele é o excesso de exigências feitas aos empreendedores. “Na França, os chefs compram dos produtores rurais próximos do local onde fazem os pratos. Aqui não, porque o pequeno produtor não tem nota fiscal e o Estado exige isso”, demonstrou. Para o consultor, é preciso criar mecanismos diferentes de nota fiscal que viabilizem o trabalho dos pequenos produtores, que assim poderiam permanecer no interior.

Ícones da gastronomia mineira dão seu depoimento

Também participaram da audiência representantes de empresas e projetos bem sucedidos ligados à gastronomia mineira, como o festival Comida di Buteco, a feira Expocachaça e o Festival Gastronômico de Tiradentes.

Com uma visão mais positiva, Maria Eulália Araújo, uma das idealizadoras do Comida di Buteco, disse que, “mais do que criticar o que há por fazer, é importante olhar para o que já está sendo feito”. Ela destacou que o Comida di Buteco está em 20 cidades do Brasil, contando com a participação de mais de 4,5 milhões de pessoas, movimentando R$ 110 milhões e gerando 4.600 empregos. Toda essa movimentação é administrada por uma empresa pequena, com apenas 12 colaboradores, segundo ela.

“Essa cadeia é puxada essencialmente por Minas Gerais, nas seis cidades que promovem o festival aqui. Graças a eventos como o Comida di Buteco e o Expocachaça, Belo Horizonte figurou várias vezes na mídia internacional”, lembrou. Maria Eulália Araújo divulgou que o último feito do projeto foi sua escolha pela Embaixada dos Estados Unidos para auxiliar aquele país a melhorar as relações com o Brasil. “Por meio dessa estratégia do governo norte-americano, um chef de lá participou do Comida di Buteco mineiro, cozinhou em bares e viu pessoas cozinhando”, informou.

Proprietário do restaurante Albanos, na Capital, Rodrigo Ferraz é o organizador do Festival Gastronômico de Tiradentes. Na visão dele, a gastronomia mineira está se movimentando bastante. “Vejo o que a gastronomia pode fazer por um Estado, por um País. O festival existe há 12 anos, reunindo entre 35 mil e 40 mil pessoas por ano. O evento já entrou para o calendário nacional e internacional”, comemorou. Ele destacou ainda que o Produto Interno Bruto de Tiradentes vem crescendo anualmente a médias muito superiores a Minas e ao Brasil, impulsionado pela rede hoteleira e pela gastronomia.

José Lúcio Mendes falou em nome da Expocachaça, exposição anual de produtores de cachaça realizada em Belo Horizonte. Há 18 anos, ele organiza o evento, que tem a participação de 1,4 milhão de pessoas e responde por R$ 220 milhões em negócios, com R$ 30 milhões movimentados a cada edição. Quanto aos números do setor da cachaça, ele informou que a economia da bebida movimenta R$ 7,5 bilhões por ano no Brasil. Em Minas, estão instalados cerca de mil alambiques, empregando 300 mil pessoas.

Para ele, é urgente que Belo Horizonte crie um calendário anual de eventos para atrair turistas, o que somente seria viável com apoio governamental. Essa lacuna, na opinião dele, tem provocado o encolhimento das feiras na Capital, com muitas saindo do mercado. Ainda conforme José Mendes, é fundamental para o setor pensar em como fomentar eventos em Belo Horizonte, tanto os realizados em espaços fechados (aperfeiçoando a infraestrutura desses locais) quanto os feitos em locais abertos. Se isso não for feito, ele vislumbra um cenário ruim, com o fechamento de vários hotéis e restaurantes.

Autoridades dão apoio a reivindicações

O secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, deu testemunho do empenho do órgão no apoio à gastronomia mineira. Ele lembrou que, quando Itamar Franco era governador, foi feita a primeira classificação do queijo minas como bem imaterial do Estado. “Isso foi feito para proteger o produto das restrições impostas pela legislação. É necessária essa proteção, porque a fiscalização impõe regras rígidas”, definiu.

Angelo Oswaldo registrou outro momento de valorização da gastronomia mineira durante o governo Itamar Franco. “Pela primeira vez num evento oficial, servimos a cachaça mineira, em dezembro de 1994, num encontro do Mercosul, em Ouro Preto”, lembrou. Como medida do atual Governo do Estado, ele citou a restauração do prédio que sediava o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), que vai se tornar a Casa da Gastronomia Mineira, passando a fazer parte do Circuito Cultural da Praça da Liberdade.

O deputado Agostinho Patrus Filho lembrou ainda que participou de reunião com o secretário de Estado de Desenvolvimento Agrário, Glênio Martins, que garantiu a implantação do projeto Do Campo à Mesa, visando permitir que o pequeno produtor do interior possa trazer seus produtos às feiras da Capital. O deputado relatou que reivindicou do secretário que os produtos possam chegar também a restaurantes, eventos e chefs.

O parlamentar respondeu a uma solicitação de Brenda Guimarães, instrutora de cursos de gastronomia no Mercado da Lagoinha, em Belo Horizonte. Ela criticou que a Prefeitura de Belo Horizonte, mantenedora do projeto que funciona há 15 anos, está querendo paralisá-lo. Os cursos são todos gratuitos e formam cerca de 3 mil pessoas por ano. Ele considera importante manter o curso do Mercado da Lagoinha e a comissão apoiar essa luta. O deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB), presidente da comissão, informou que foi aprovado requerimeno na comissão para debater esse assunto.

Apoiando a fala de Eduardo Avelar, Antônio Carlos Arantes disse que “os técnicos às vezes ficam questionando o problema da bactéria e esquecem que ela é que é responsável pela produção e qualidade do queijo”. Nesse sentido, ele lembrou a importância da lei aprovada na ALMG para regularizar o queijo artesanal mineiro. “Antes dela, havia 170 pequenos produtores legalizados em Minas; hoje, são mais de 400”, comemorou.

Descrição: Parlamentares defenderam eventos que divulgam a gastronomia mineira

Parlamentares defenderam eventos que divulgam a gastronomia mineira – Foto: Raíla Melo

Copa do Mundo do Queijo – O parlamentar falou ainda sobre a participação do queijo mineiro na Copa do Mundo do Queijo, que reuniu 23 países. “Nosso queijo ficou em segundo lugar. Eis aí a prova da qualidade diferenciada desse nosso produto. Só os técnicos não entenderam isso!”, ironizou ele, segurando um legítimo queijo canastra.

O deputado também foi otimista com relação às melhorias na infraestrutura que favorecem o turismo na Capital. “Vejo ações importantes do governo melhorando a infraestrutura: boas vias de acesso para os aeroportos, bons hotéis”, disse. Outros diferenciais de Minas seriam, segundo ele, o sucesso de projetos mostrados na reunião – Comida di Buteco, Expocachaça e Festival de Tiradentes.

Em Uberlândia (Triângulo Mineiro), cidade onde o deputado Felipe Attiê (PP) é majoritário, a situação da gastronomia foi classificada por ele como muito pior. “Somos a segunda cidade do Estado, a 23ª do Brasil, e lá são criados restaurantes de ótima qualidade, mas de baixo preço, pois a concorrência é brutal”, disse. Na avaliação dele, também é preciso promover uma reciclagem dos profissionais da gastronomia de Uberlândia.

O deputado Geraldo Pimenta (PCdoB) recordou alguns eventos recentes que serviram para divulgar a gastronomia mineira. “Recentemente, o Salgueiro cantou no Carnaval do Rio de Janeiro os sabores de Minas Gerais. Tivemos também o maior tropeiro do mundo, registrado no Guiness Book”, informou. Ele aproveitou para divulgar o Festival das Abóboras, que Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte) realiza no próximo fim de semana.

Para o deputado Roberto Andrade (PTN), “uma das alternativas para aumentar a taxa de ocupação dos hotéis construídos na Copa do Mundo é aproveitar o que Minas tem de melhor: a sua gastronomia”. Já o deputado Fábio Avelar Oliveira (PTdoB) manifestou seu apoio a todas as lutas envolvendo a gastronomia.

Fonte: Assessoria de Comunicação da ALMG

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