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O que você prefere: ganhar R$ 900 ou 90% de chance de ganhar R$ 1.000? 


 


Se você escolheu a certeza de receber R$ 900, respondeu como a maioria das pessoas, apesar de ambas terem o mesmo valor esperado.


 


Nossa capacidade limitada de processar informações e a dificuldade de identificar a melhor opção nos levam à utilização de atalhos mentais (heurísticas) que simplificam o processo de decisão.


 


A ancoragem que é a tendência humana para aceitar e confiar no primeiro pedaço de informação recebida antes de tomar uma decisão, por exemplo, é uma heurística frequentemente observada. Como você responderia à seguinte pergunta: “O Ibovespa, principal índice do mercado de ações no Brasil, valorizou 26% em 2017. Quanto deve valorizar em 2018?”.


 


A informação sobre o desempenho do ano anterior é irrelevante, a correlação entre o desempenho de um período e de outro é praticamente zero. No entanto, a maioria dos investidores usará essa referência para estabelecer sua estimativa.


 


Um estudo interessante pesquisou se a forma de apresentar um problema (framing) influencia nossa escolha. Racionalmente, um mesmo problema, enunciado de duas maneiras distintas, não poderia produzir resultados diferentes. No entanto, não é isso que se observa.


 


Um grupo de pessoas foi convidado a decidir sobre a implementação de um programa de saúde pública para combater uma doença epidêmica envolvendo 600 pessoas: 1) se o programa A for adotado, 200 pessoas serão salvas; 2) se o programa B for adotado, há 1/3 de probabilidade de que 600 pessoas sejam salvas e 2/3 de que ninguém se salve. Resultado: 72% dos participantes preferem o programa A.


 


O mesmo problema foi enunciado de maneira diferente para outro grupo de pessoas: 1) se o programa C for adotado, 400 pessoas morrerão; 2) se o programa D for adotado, há 1/3 de probabilidade de que ninguém morra e 2/3 de probabilidade de que 600 pessoas morram. A maioria preferiu o programa D, e apenas 22% optaram pelo programa C.


 


Quando o problema enuncia-se de forma a salvar vidas, as pessoas são conservadoras, preferem garantir vidas salvas a tomar riscos. Quando se fala em mortes, as pessoas são propensas ao risco, arriscam para tentar evitar as perdas de vidas.


 


Qualquer semelhança com a maneira segundo a qual tomamos decisões de investimentos não é mera coincidência.


 


As pessoas são, em geral, avessas ao risco, procurando obter um ganho certo, mesmo que o valor esperado da alternativa seja potencialmente superior. Esse viés comportamental é conhecido como “aversão ao risco”.


 


O exemplo que acabamos de ver considera somente ganhos, e, curiosamente, quando as escolhas são perdas, o resultado é diferente. Você prefere 1) perder R$ 900 ou 2) 90% de chance de perder R$ 1.000, ou seja, 10% de chance de perder R$ 0?


 


Em vez de escolher a perda certa da escolha 1, como no caso de ganhos, a maioria escolherá a aposta arriscada da opção 2. Esse comportamento ajuda a entender por que investidores em ações, por exemplo, resistem a vender posições com prejuízo.


 


Escolhem manter o investimento na esperança de que o valor voltará ao preço original de compra. O nome desse viés é “aversão à perda”. Segundo Kahneman e Tversky, os investidores sentem muito mais a dor da perda do que o prazer de um ganho equivalente .


 


Fonte: Folha de São Paulo –  Marcia Dessen


 

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